— Caio Fernando Abreu
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
CFA
“Ele pode estar olhando as suas fotos. Neste exato momento.
Porque não? Passou-se muito tempo. Detalhes se perderam. E daí? Pode ser
que ele faça todas as coisas que você faz. Escondida. Sem deixar rastro
nem pistas. Talvez ele passe a mão na barba mal feita e sinta saudade
do quanto você gostava disso. Ou percorra trajetos que eram seus, na
tentativa de não deixar que você se disperse das lembranças. As boas.
Por escolha ou fatalidade, pouco importa, ele pode pensar em você. Todos
os dias. E ainda assim preferir o silêncio. Ele pode reler seus
bilhetes, procurar o seu cheiro em outros cheiros. Ele pode ouvir as
suas músicas, procurar a sua voz em outras vozes. Quem nos faz falta
acerta o coração como um vento súbito que entra pela janela aberta. Não
há escape. Talvez ele perceba que você faz falta. E diferença. De alguma
forma, numa noite fria. Você não sabe. Ele pode ser o cara com quem
passará aquele tão sonhado verão em Paris. Talvez ele volte. Ou não.”
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