— Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Maneira de Amar
"O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião. O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho. Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido?” “Não, respondeu, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, e ele sabia."
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Passou ou acostumou?
Tinha toda a atenção pra mim, mas ganhei uma irmã e aprendi
a dividir a atenção com ela. Era acostumada a andar a pé, mas papai comprou um
carro e me acostumei a ir de carro pra qualquer canto. Era acostumada a ter cães, mas na mudança
tive que os deixar com um parente.
Acostumei com o aparelho, mas logo tive que trocar o fixo pelo móvel e
novamente me acostumar. Ao que parece a vida é mesmo isso. Coisas que no começo
assustam um pouco, mas depois acostumam. Gente que chega de repente e acaba se
tornando parte da rotina. Dores que cicatrizaram e só deixaram marcas. Portanto
agora eu sei que o que hoje tem me incomodado há de acostumar, então não ligo mais, só
vou deixando... Que acostume!
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Me deixa falar...
Tentei escrever, mas faltaram-me folhas. Tentei resumir, mas
faltou-me paciência. Tentei conversar com alguém, mas faltou vontade de me
ouvir. Tentei alguém mais próximo, mas parece que todos têm problemas mais
importantes do que minha falta de voz, de caneta, de papel. Eu preciso falar, mesmo que seja por palavras escritas, só quero que alguém me ouça, mesmo que lendo,
mesmo que olhando. Há dias que tento escrever algo nem que seja pra postar num
blog, num tumblr, no facebook, no twitter, mas algo que seja meu, propriamente meu.
Mas nada me vem, nada eu consigo falar ou escrever. E mais uma vez aqui estou...
Escrevendo sobre escrever...
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Martha Medeiros
“Bonitas mesmo somos quando ninguém está nos
vendo. Atirada no sofá, com uma calça de ficar em casa, uma blusa
faltando um botão, as pernas enroscadas uma na outra, o cabelo caindo de
qualquer jeito pelo ombro, nenhuma preocupação se o batom resistiu ou
não à longa passagem do dia. Um livro nas mãos, o olhar perdido dentro
de tantas palavras, um ar de descoberta no rosto. Linda.”
— Martha Medeiros.
sábado, 7 de julho de 2012
Falando com as paredes
É muito bom ser ignorada. Ainda mais quando queria falar
algo que realmente importa pra você. Eu sou tão ignorada que eu já nem me esforço pra
falar e quando a pessoa não se interessa logo calo a boca e só pra confirmar a
maioria nem percebe que eu cortei um assunto ao meio. O problema é que hoje as
pessoas têm muito a dizer mas não querem escutar. E aí eu fico aqui, sozinha,
falando comigo mesma e com quem quiser ouvir, no caso geralmente converso com
meus animais, ou fico parada conversando com as paredes, pelo menos elas são melhores
do que as pessoas que não sabem guardar segredos. Talvez eu devesse sair mais
de casa e conhecer mais o mundo, mas isso não mudaria o fato de que eu tenho muito a dizer. É, eu sou uma das pessoas que tem muito
a dizer, mas acabou só escutando os outros. Sou uma das pessoas que tem muito
pra falar, mas ninguém para a ouvir.
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Eu não quero.
Não sei por que devo ir ao medico se eu não quero. Não sei por que devo ir ao shopping se eu não quero. E eu nunca vou entender por que eu devo fazer alguma coisa, sendo que eu não quero. Eu fiz e faço todos os dias muita coisa somente pra agradar ou ajudar os outros, por que eu me preocupo e quero ver as pessoas que eu gosto bem. Mas sabe, tenho me decepcionado tanto... Tenho me magoado tanto por conta dos outros... E eu simplesmente cansei. Agora eu quero fazer o que eu quiser. E prometo que agora vou me empenhar em me agradar, pois tanto fiz pros outros e o que recebi de volta foram tantas coisas ruins, tantos risos tiveram que encobririr vontades enormes de chorar... E posso dizer que não farei e que não quererei mais nada que não seja por mim, mas a verdade é que eu não consigo. Pois posso jurar aqui que só farei o que eu quiser, mas amanhã estarei querendo ajudar aquele amigo que estava tão tristinho ali no canto. Então isso fica como um desabafo. Um segredo, pra ninguém se magoar e pra eu não explodir. Certo?
segunda-feira, 2 de julho de 2012
Clarice Lispector
“Farei o possível para não amar demais as pessoas,
sobretudo, por causa das pessoas. Às vezes o amor que se dá pesa, quase
como uma responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa
tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros
senão o mínimo. É uma forma de paz… Também é bom porque em geral se pode
ajudar muito mais as pessoas quando não se está cega de amor.”
— Clarice Lispector
E eu finalmente posso dizer...
Tempos ruins não me fazem falta, mas sempre tem algo nos faz lembrar. É triste olhar pra trás e ver imagens como esta, de dias que eu fingia felicidade e era até engraçado perceber que todos acreditavam, mas eu aprendi que toda dor passa e até as mais difíceis passam a ser suportáveis. Talvez ainda haja um pouco daquela garota triste em mim, mas eu prefiro ser feliz em cada coisa, cada pequena coisa, mesmo que eu não devesse, eu prefiro sorrir, pois sei que nenhuma dor dura pra sempre. O aprendizado pode ter sido desgastante e dolorido, mas eu sei que minhas forças são renovadas a todos os dias, pois tenho Deus comigo. Pode parecer conteúdo inútil, mas tudo fica mais fácil quando você entende que não está sozinho, que Ele está sempre ali por você. Eu finalmente posso dizer que sou feliz, pois aprendi que não estou sozinha e que não preciso ser o que querem que eu seja, eu sou o melhor que posso ser pra Ele e assim eu sou muito feliz, pois me torno o melhor de mim. Talvez muita gente não entenda esse texto, mas o que tem pra ser entendido é: eu não finjo mais que sou feliz.
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