Sempre fui
uma sonhadora. E meus sonhos me levavam longe. Me faziam ser princesa, me
faziam ser a tirana cruel. Desde a linda garota apaixonada até a chata garota
revoltada.
Certo dia
num desses longos devaneios, me vi sonhando. Via uma arvore num campo, estava
bem longe. Mas como eu procurava um lugar com sombra, fui em sua direção. A
verdade é, que mais perto, pude ver que suas folhas estavam caindo e algumas
poucas folhas ainda penduradas por um fio.
Talvez
diriam que essa arvore estava feia por estar assim, sem folhas. Mostrando seus
galhos finos. Mas eu achei simplesmente lindo. E assim escolhi ali. Aquele se
tornou um canto particular. Eu ia pra lá quando estava chateada, quando
precisava ficar sozinha, quando ficava muito feliz, quando precisava estudar,
quando queria ler. Ali era o meu cantinho.
Num desses dias,
enquanto eu estava senta lendo, pude ouvir alguns passos. Mas como logo
pararam, continuei ali. Ao abaixar o livro, pude ver um menino a me olhar. Ficamos
nos encarando durante um tempo, até que um outro garoto apareceu e disse “Te
encontrei, que está fazendo aqui de novo?”.
E eu
descobri que tinha um pequeno admirador que me via chorando, pulando, lendo,
escrevendo, enfim... Que sempre aparecia e ficava sempre escondido. Até este
dia.
Após esse
encontro, parei para observar mais vezes, e o via. Sempre escondido. Me
olhando. Sem nenhuma razão aparente.
No outro
dia, logo cedo corri para o meu canto e, sem me lembrar do tal menino, comecei
a chorar. Me abaixei e ali fiquei chorando. Quando finalmente consegui levantar
a cabeça, pude ver aquele menino novamente me encarando, dessa vez com uma
singela preocupação no olhar. O perguntei o que queria e pra minha surpresa ele
me respondeu “Não quero mais te ver chorar”.
Dei um meio sorriso e perguntei por que ele ficava me olhando escondido.
“Eu vi você chorar outro dia e queria saber
se você estava bem, mas não conseguia me aproximar, então toda vez que você vinha
pra cá, eu vinha também pra ver se você ia chorar. Como há algum tempo você não
chorava, eu estava me acostumando a não vir mais aqui, mas depois de hoje, acho
que vou continuar vindo.”
“Você não precisa vir”, minha voz saiu
num tom rouco que nem eu reconheceria.
“Eu sei”, e ele realmente parecia não ter
duvidas disso.
“E por que vem?”
“Gosto de saber que você não esta sozinha
quando está triste.”
“Mas se você fica de longe, eu fico sozinha”
Ele deu de ombros,
“Estou sempre perto o suficiente pra você saber que eu estou aqui”.
Sorri. Ele
tinha razão. Saber que eu não estava sozinha ali, naquele momento, me fez
sentir bem.
Depois
daquele dia, aquele garoto não ficava mais de longe, começou a se aproximar. E numa
tarde nublada qualquer pude constatar o que já tinha de fato percebido, aquele
era um garotinho muito especial.
De repente,
acordei do meu devaneio e me vi feliz.
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